segunda-feira, 31 de março de 2008

a imbecilidade dos sentimentos

Me sinto uma idiota completa. Às vezes acredito demais nos meus sonhos e alucino futuros planejados onde parece tão próximo de se realizar, mas ao mesmo tempo tão longe, há em torno de tudo isso um paradoxo que se funde em meus pensamentos. Já tentei desistir de um sonho, não deu certo, ele continuava ali martelando na minha cabeça para que eu continuasse a acreditar nele. E eu acreditava. Nunca deixei de acreditar, quando achava que me encontrava num momento de lucidez e jogava fora numa lixeira suja meu passado, aquele momento era enganoso, pois não era lucidez, aquilo sim era minha loucura. Loucura não esquematizada, apenas uma forma insana que por vezes tomava conta do meus pensamentos, e me achava espiritualmente superior a situação e colocava pra fora meus monstros pensando estar no momento correto. Na verdade sempre era o momento errado, pois aquele não era meu eu, apenas uma parte insana que insistia em tomar vida própria, fazendo questão de que eu desistisse dos meus sonhos, ou melhor, dele. Como alguém pode se tornar tão importante, tomando um poder sobre outro, que parte das 24 horas do nosso pensamento se voltam para aquela pessoa. Quando estamos bem, se voltam em pensar como é maravilhoso viver aquele momento, e assim, quando longe, o desespero silencioso de dentro das nossas fantasias em fazer que aquilo tudo volte, como reconquistar o inalcançável e às vezes como uma visita inesperada, volta a mim a forma insana que suplica por uma desistência, quando o que eu mais quero é tentar.
Talvez, não valha a pena, e eu nem seja retribuída gentilmente. E ele me olhe de forma que seria impossível de compreender o porquê de eu não conseguir desistir dele. Nem de nossos sonhos. Por vezes que parecem que esses devaneios continuem a existir somente a mim, e eu parta novamente a reviver num monologo, mas que me parece mais agradável de existir numa dualidade onde o outro não me interessa e seria apenas uma válvula de escape por não ser ele que estaria completando aquelas faltas.
Aquele nervosismo pré-encontros-planejados-com-novas-paixões-desconhecidas tomava conta de mim novamente, mas não por um outro qualquer, mas ainda por ele. Volto a me sentir uma imbecil. Houve tempos em que eu lembrava de certas magoas e chutava um móvel qualquer e esquecia dos nossos sonhos naquele instante, como aqueles pensamentos jogassem um balde de água fria nos encantamentos juvenis. Fujo, fujo, fujo. E volto como um cachorro, molhado e abandonado, com olhos piedosos, pedindo ‘eiii, olhe pra mim’, e ser retribuída num olhar de canto de olho, e se encher de esperanças, pelo mínimo. Não que eu esteja exigindo, apenas ficaria muito feliz se isso espontaneamente acontecesse, acontece que é pior, muito pior o momento. É estranho um dia ter sido a única para ele, quando no momento de hoje se só mais uma. Um dia ele me dizia o certo e o errado, e eu fingia não escutar, por apenas achar que o que ele pensava sim era o errado, e nós nos perdemos em destinos incertos, e na continuidade do monologo eu resolvi testar o errado pra mim e o certo pra ele, e passei a me sentir muito melhor, parecia que parando de cometer loucuras, e prejudicar a mim mesma era bom, me fazia bem, que o antiga certa maneira revolta de autodestruição não passava de uma vida vazia, onde eu conseguia escapar dos meus problemas, dos nossos problemas, e nunca os resolvia. Hoje, eu não estou mais escapando dos problemas como uma bicha covarde, e estou enfrentando lucidamente, e também não os consigo resolver, mas os enxergo como nunca, e o quão eu fui inconseqüente com aqueles atos involuntários de praticamente jogar tudo pro alto e dizer ‘foda-se’. Sim, foda-se, quem se fudeu forte e unicamente foi eu mesma. Espero que ele tenha ficado bem. É estranho pensar ter encontrado o amor da sua vida, a gente se liga de certa forma a essa pessoa de forma enigmática, que mesmo que pra essa pessoa você seja só um amigo, ou um ex affair que deu errado, a gente continua a produzir e reproduzir fantasias exacerbadas em cima daquilo e daquela pessoa, e a gente passa a se sentir como uma lunática obsessiva. Então, to aqui como uma idiota com alguma síndrome desconhecida falando que eu amo, amo e amo. Como nunca foi possível antes. E fico aqui pensando nele, e planejando que um dia eu vou sair correndo vê-lo e tudo será lindo como um filme fofo que passa na sessão da tarde. E me sinto logo depois uma culpa enorme, você entende? Tipo comer e vomitar depois. Um dia ele também sonhou isso comigo, talvez hoje em dia ainda sonhe um pouco, mais um dia amamos paralelamente, e hoje sei que o que eu sinto extrapolou os limites da razão, e acho que para ele está tudo bem, talvez ainda deseje um pouco, mas por algum flash de pensamento, enquanto eu, ainda continuo todas essas horas pensando. Acho que meu cérebro vai explodir. Então escrevo textos cheios de metáforas tentando expelir sentimentos com a tentativa desesperada de me sentir talvez com pesos a menos no coração e na consciência. E por final me sinto uma imbecil pensando se mando ou não mando o que eu escrevi, se falo ou se não falo tudo que sinto. E quando falo me sinto pior ainda pensando o que o outro ira fazer no outro lado da tela quem sabe pensar que sou uma lunática e eu acabo num misto de vergonha e orgulho de mim mesma. Então que se dane tudo, que me ache uma idiota, que me ignore, que me esnobe, ou que me iluda. Mas eu o amo, e o pior que pode acontecer entre tudo isso é nós não ficarmos juntos, então alivio meus julgamentos, pois sei que se um dia eu estiver com ele, todas minhas imbecilidades julgadas por mim própria, serão então absolvidas, pois as tentativas não foram em vão.

quinta-feira, 20 de março de 2008

A falta

Por mais que as coisas fluíam com leveza, algo ali parecia irrequieto. Enroscava-se entre os lençóis, e indócil não encontrava nenhuma serenidade, entre pesadelos e pensamentos indigestos parecia não conseguir acordar. Estando completamente submersa naquele estado de quase transe. Sentimentos não revelados se confessavam ali, acordava ansiosa, a espera da recíproca não conquistada.
Naquele letargo, uma figura atípica lhe falava: Isto é apenas a forma sintetizada do Eu de todos, onde sempre existe o bem e o mau. Enquanto isso aqueles castelos, se tornavam ruínas, assim como si.
Acordava exausta, de tantas fugas e assombros vividos naquela noite. Alterava-se entre entender suas entrelinhas e então se atirava num entregar profundo de aceitações. Mas só, num estado meditativo não enxergava o que ainda havia ali, a Falta. Sentia-se completa, estava amadurecendo, e todo aquele presságio lhe trazia bons frutos. Porém submerso a aqueles sonhos, a falta continuava veemente. Então arremessava entre choros penosos, até que seus lábios estivessem completamente inchados e seu rosto transfigurado. Chorava pela falta. Comia compulsivamente onde pensava que então aquilo lhe confortaria. Na verdade só enchia seu estomago. A Falta estava puramente na sua alma. Culpada, e cúmplice de si, dirigia-se calmamente a uma privada qualquer, ali se ajoelhava como se fosse um altar, entre respirações profundas e culpas encravas, vigorosamente enfiava seu dedo indicador na sua garganta, sem dó. Vomitava compulsivamente, como se aquele ato a redimiria de suas culpas. Acabado o martírio então se achava digna de prazeres momentâneos, fumava um cigarro mentolado calmamente, e então voltava a si. Sem perceber que a auto destruição estava presente no seu cotidiano doentio, a procura de poder cicatrizar seu falsear.
Na mesma semana, um tanto de fulgor começava há clarear aqueles dias, a grande descoberta. Descobriria então a falta. Falta de si própria que consequentemente lhe causava suas árduas desilusões. Sua única veleidade era que tudo aquilo fosse recíproco, mas num passado, ela mesma havia desiludido suas esperanças e logo a do outro. Neles haviam se extinguido, pois ela mesma havia feito questão de fazer esse afazer. Porém nela, havia sido mais um equivoco, permaneceram presentes, em cada dia, hora ou segundo da sua existência, lhe causando males desmedidos, porque sabia que a única culpada era ela mesma, aquele reflexo mitigado ao espelho. Quase já irreconhecível a ela. Tentava recuperar suas perdas insistentemente, e não via nenhum resultado.
Nefasta, dormia por 15 horas seguidas, e desejava que tudo aquilo passasse rápido, e assim, se demorava mais ainda a ultimar. Deveria ter uma saída, uma solução. A buscava compulsivamente, pois sabia que em algum momento aquilo havia de ser suprido, talvez por um esquecer obvio do passado desmantelado, ou a visão de um novo futuro estimulante para que houvesse forças para ser seguido.
Nenhum futuro lhe parecia animador. Nada era o esperado. Pois no seu intimo, sabia que a falta só seria atenuada, quando aquele passado fosse enfim consolidado. E conhecia este caminhar, por visões ou devaneios, mas o conhecia, e sua percepção lhe dava avisos que estava próximo o capitulo posterior, anteriormente ansiado. Só assim poderia voltar a sonhar, dando espaço a novas histórias, ou reconstruir aquela passar antiga. Só precisava de um sim, e iria esperar, por ele.

Em órbita

A diferença entre impor uma nova proposta de vida, e segui-las pode ser a grande defasagem de ser e desejar ser. Imaginamos um futuro idealista, onde não fazemos esforço algum para atingir metade dos desígnios sonhados.
Desta vez, ansiava pelo diferente, para que cumprisse e praticasse todos os esforços pelo final propósito. Então se contradizia entre empurrar mais um dia qualquer, ou continuar tentando. Estava firme de si, e faria o além-mundo para conseguir. Há quase uma década chegava sempre no ‘quase’, chegou à vez de atingir o final, e descobrir as sensações que ele poderia causar. Teria que se jogar numa exaustiva jornada, onde no momento sempre aparecia coisas mais interessantes a fazer, do que seguir seus objetivos. Estava ali o erro: as distrações. Havia lhe dado prazos, e desta vez, não seria em vão seu esforço.
Flutuava numa água límpida, já não sentia mais a gravidade de seu corpo, nem o peso de seus pensamentos, era só ela e água. O céu naquela noite parecia estar contribuindo pelas tais sensações vividas naquele instante, a noite escura, com estrelas, algumas já não existiam mais, e continuavam a expandir seu brilho, refletindo em si, toda a claridade daquela noite, onde o fulgor e penumbra se liquefaziam num único horizonte. Assim como ele, ela se fundia em nada. Era apenas alma, seria capaz de alucinar estar morta, e só podia sentir sua essência. Já não era nem homem nem mulher, nem adulta, nem criança. Era como aquelas estrelas, que entre luz e sombra se unificavam num embaraçar indecifrável, assim como era o universo, pela primeira vez, sabia e se sentia parte dele. Cheio de estrelas, buracos negros, explosões, formas de existência, e sua própria expansão e contração natural. Recriando-se a cada segundo. Assim como ela.
Éramos parte disso. E fingíamos não saber, quando no fundo todos sempre compreendíamos, e pensávamos que não. Quem sabe, por maquinal das coisas, ou regras meramente enganosas. Sentir-se assim, era como se recarregar numa nova reencarnação. Criança posta a viver e refazer sua jornada.
Ali estava a altercação para não fugir do final, havia se recarregado. Poderia pela primeira vez saber qual era aquele sabor de conquistar a chegada. Mas ainda teria que esperar seus dias, pois ainda não era a hora.

Solilóquio

Acabar com as próprias esperanças é tão complexo, quanto pessoas alheias acabarem com esperanças de outrem. Por mais árduo que seja às vezes é imprescindível. Quem sabe por uma proteção natural para evitar póstumos sofrimentos; desistir.
Naquele momento, o chá quente de camomila com um pouco de mel lhe trazia um cínico conforto, de que tudo estava bem. Aquecia sua garganta, sentindo pequenas queimaduras ao descer daquele liquido tranqüilizante. Não tantas, quanto às queimaduras que a feriam por dentro. Seu olhar se comprimia num único ponto imaginário, a busca de uma solução rápida para que talvez ainda existisse algum escasso pretexto para continuar tentando. Não havia. Já havia persistido demais numa causa onde só conseguiria cavar sua própria cova, era a hora de tentar curar seus cancros e poder seguir, no tal plano B desesperado.
Não iria mais cair em joguetes, nos quais estava em jogo seu próprio destino, dessa vez, as coisas já não pareciam mais tão duras. Calejada de outras ocasiões onde àquela história se reproduzia insistentemente. Já não havia mais dores, porém mais intenso que isso latejava o peso denso do fracasso. As estratégias haviam se fundido numa derrota, e a coação de continuar existindo era uma tarefa um tanto sacrificante, mas permanecer com a antiga vitalidade era imperioso. Sabia que aquela perda não era uma avaria qualquer, mas sim um abdicar de uma quimera, caindo das nuvens, pra uma realidade absorvente.
Ela estava ali, presente, sem mais ilusões, sabia que a principal causadora disto era ela mesma por situações passadas onde falsas expectativas haviam lhe feito agir de forma equivoca com seus próprios sentidos.
Num passado distante, já pudera conviver com ensaios de outros numa realidade que era sua própria no tempo presente. Havia desejado poder também ser daquele teor. Parecia impraticável, mas, contudo cobiçava viver daquela forma. Chegou o dia que isto aconteceu, estava como sempre desejava: como aqueles outros viviam e lhe relatavam ser. E não era como esperava que fosse.
A partir daquele momento seria assim. Por mais excêntrico que fosse para uma pessoa que um dia se derretia em amores e ódios turbulentos, viver sem sentir. Anulava seus sentimentos ao extremo. Suas prioridades passaram a ser secundárias, e seus sonhos, começaram a se tornar inúteis, pois o próximo a sua volta não faria o mínimo esforço para tentar vive-los.
A derrota passou a ser vitória num póstumo momento. Pois ela sabia que havia tentado, e arriscou até os últimos segundos, ainda que o grito histérico no seu peito abrisse forças para mudar de chão, num passar dum presságio. E eles, mal haviam se levantado da cadeira para dizer que haviam desistido, permaneciam ali, apáticos e néscios num fato onde se carecia de respostas, por mais duras que fossem. Ela as respondeu, estava exausta, e precisava dormir respirar, e viver sem passar os dias na expectativa de rebate do outro, aquele outro que nem se quer levantou-se pra dizer um não sonoro, para aliviar, e acabar enfim com aquela história, na qual, ela própria tratou de quebrar os laços.
Cortava eles com cuidado e simultaneamente abandonava-os então, como uma mãe desnaturada, deixando um bebê recém nascido numa porta qualquer. Desobrigava-se de uma história onde a única personagem viva era ela própria. Fadigada de monólogos. Entrou cada vez mais num monólogo sem fim, na tentativa de poder fugir deles, os adentrava cada vez mais pujante, cavando um poço pelo qual escoava seu liquido vital entre suas fendas.
Libertar-se, já não era penoso, mas escapar de promessas falidas havia a tornado mais só do que ficar a espera delas serem compridas. O palco escuro, com o divã antigo de arte renascentista a aguardava, para o continuar de um existir, pelo qual o acaso lhe reservava somente, o frio enérgico de um solilóquio. Assim frigidos por fim.

terça-feira, 4 de março de 2008

Perfídia

O metrô demorava a vir. Impaciente e colérica apertava seus dedos entre as mãos da forma mais vigorosa possível. Seus olhos castanhos intensos expressavam pura fúria, desejava um explosivo forte, um TNT que explodissem todos eles. Todos aqueles que a atraiçoaram pelas costas. Eles não tinham limites, eram egocêntricos e individualistas. Um dia havia acreditado neles, tinha-os amado, e aberto mão de diversas coisas por todos eles. Tomava partido, comprava brigas, e ofensas. Porém no final, todos se resolviam, e a deixava de lado em busca da sua própria felicidade, enquanto ela só desejava a presença deles. Traída, cobiçava a queda dos seus desleais aliados.
Fazia planos, arquitetava venenos, o ódio de uma pessoa traída poderia provocar a queda de outros tantos, e principalmente de si. Seu único desejo era a infelicidade deles, e com isso, acabava atraindo sua própria desgraça. Fumava, bebia e comia compulsivamente, aquela ira desgraçava seus dias. Apetecia no seu íntimo para que a justiça fosse feita, nem que fosse pelas próprias mãos. Ser traída por um parceiro ou um amigo poderia ser difícil, mas ser atraiçoado pelos seus progenitores parecia algo inesperado. As conseqüências eram graves, todos a sua volta lhe pareciam falsos, se seus pais foram capazes de lhe trazer seu próprio infortúnio, o que poderia vir do próximo? Havia passado dois anos tentando unir aqueles dois, cometeu claudicações por eles, engolindo sua própria estima. E quando tudo aboliu, lhe viraram a costas e só pensaram em si próprios. A raiva consumia, seria capaz de matar, se melhor fosse, não só a eles, mas todos os envolvidos na história. Já não temia mais nada, e isso era perigoso para qualquer ser humano: O não temor.
Mas aquilo feria a ela, desejava muito não ter aqueles sentimentos, pois não era uma má pessoa, apenas alguém que se sentia injustiçada. A ira poderia lhe causar males impossíveis de serem medidos num futuro próximo. Seus sentimentos se confundiam e entrelaçavam-se novamente. Como um expandir e contrair sistemático.
Por vezes, sentia pena, e tentava ver as coisas de um ângulo menos maléfico. Então passava um dia bem, fazia ligações e sentia algumas nostalgias de um tempo onde tudo dava certo. Porém esse dia passava, virava mais alguma noite entre seus escritos, e outras tarefas e todos os sentidos se contradiziam, e lhe vinha uma vontade quase irrefletida de arrebentar a cara de todos seus traidores. Feroz agia como vilã, pensava na grana que poderia vir com isso, e a justiça feita, era isso que eles mereciam. Por outras vezes acreditava que a vida poderia ser mais dura para eles, a morte seria talvez uma benção, e ela não desejava isso, para ela, se alguém merecia ser infeliz, e cruelmente torturados eram eles, até que não suportassem mais a vida.
Mas no fundo algo tomava conta de si, e abrandava seus sentimentos, como uma mão divina. Desejava paz e seguir tudo adiante esquecendo o que passou, junto com seus martírios, imêmore dos fatos. Talvez eles não tivessem feito por mal, só estavam imaturos ainda para enxergar. Fingia. Havia se tornado uma fingida de marca maior. E só assim conseguia levar seus dias e noites. Possuía características jamais imaginadas por ela, o ódio mudara seu comportamento, e seria capaz de qualquer coisa dali em diante.
Contradizendo todos os fatos, lia, praticava e sussurrava frases positivas, e tentava afogar suas mágoas ao mesmo tempo em auto destruição.
O ódio ganancioso parecia uma nova forma de existência. Mas pela primeira vez lhe tinha feito chorar. Sentimentos gelados geralmente não se escoavam em lágrimas, mas desta vez haviam se fundido em num choro desesperado. Talvez, porque não fosse somente ódio.

A Espera

O telefone toca. Ela se quer levanta-se daquela poltrona para atender, pois não era o chamado esperado, a tal resposta pela qual movia seus dias. Inquieta, andava de um lado para o outro, roia o resto de unhas que ainda restavam nos seus dedos longos, fumava mais um cigarro qualquer, já acendendo o próximo na brasa do mesmo. A resposta talvez nunca chegasse, ou quem sabe fosse meramente respondida de forma afável, porquanto, saber que alguém possuía sentimentos em cima de si, aquecia o ego, resultava por vezes deleito para alguns.
O fim de semana seria longo, quem sabe ele nem fosse ler aquelas declarações. Ou apenas achar mais uma asneira vinda dela, fulana estranha, que transbordava paradoxos nas suas frases medidamente digitadas, porém repensadas inúmeras vezes antes de serem enviadas para ele. Imponderável, gastava parte de seu tempo pensando num transcorrer utópico de uma fábula criada por eles. Mas ela queria arriscar, pois no seu imo, algo dizia que não era para desistir disso. Seria como abandonar uma história nos primeiros parágrafos. Histórias não eram concluíam assim, precisava-se de desfecho, por mais duros que fossem. Ela tentaria. Nos últimos tempos já não desistia fácil das coisas, mesmo que elas fugissem de si.
Planejou distrações, para seu corpo, alma e mente. Para que a resposta viesse serena, sem o pulsar repetitivo da aflição da espera. Deveria quem sabe encontrar alguns amigos, cair numa farra qualquer, fingindo estar tudo bem, e que no ponto médio do decorrer da noite, tudo realmente estivesse bem, nem que fossem por minutos ou poucas horas a seguir, por emoções forçadas. Por algumas vezes sentimentos artificialmente provocados só a levavam cada vez mais para a realidade, e todos os anseios que sentia por ele, e por sua espera.
Procurava num poço escuro a saída para tudo isso. Acreditara demais naquela fábula, e persistia nela. Foi aí o momento oportuno para despejar então palavras impregnadas de sensibilidade instigadas por ele. E só bastou um sinal para o estopim da explosão de sentimentos. Não sabia se aquele sinal era veraz, mas confiou na sua intuição para derramar parte dela, para que ele a conhece-se, e almejava que ele retribuísse.
Sua cabeça fervia em idéias e planos perfeitos para conquistar o inconquistável. Destruía sonhos alheios por passatempo, no final apenas para tentar suprir seus desejos íntimos, que por ele um dia foram afagados docemente, e sentia ausência. Substituía-o entre garrafas de vodka jogadas num terreno qualquer, junto com carteiras vazias de algum cigarro, entre amores e prazeres culpados. Não suportava mais essa rotina doentia, e se jogou num mar violento, para que as ondas pudessem quebrá-la ao meio, ou então jogá-la numa ilha fleuma, que dentre suas areias finas e brancas, a cobririam seu corpo como um manto, ou simples colo de mãe, que a diria que está tudo bem, que já poderia dormir em paz.
Havia passados poucos segundos, mas seus pensamentos frenéticos lhe davam a impressão de que horas teriam se passado com eles. O telefone continuava a tocar, ela levantou-se calmante, apagou o cigarro na metade, o deixando entre as cinzas, e procurava entre a desordem o aparelho telefônico, enquanto cantava como se não estivesse a mínima pressa, that's what you get. Enfim conseguiu encontrá-lo, seus dedos compridos de unhas ruídas apertaram o send com força e certo desespero.

- Alô?
- Gostaria de falar com a Vilma.
- Não mora ninguém com esse nome aqui.
- Ah! Desculpa foi engano.
- Sempre é.
- O que você falou moça?
- Falei que era engano.
- Ah! Sim, engano... Tudo bem, obrigado.
- De nada.

Desligou e voltou a se encontrar nos seus pensamentos. Enganos. Sempre são enganos. Mas daquela vez sabia que para ela não seria engano. O desfecho esperado poderia não chegar, mas seus sentimentos, por ele, nunca seriam enganosos.