terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Paradoxos

Como fazer a mente parar? Queria ás vezes ficar nem que fossem cinco segundos sem pensar em nada. O que ultimamente tem sido uma tarefa bem difícil, pra não dizer dolorosa. O pior de não parar de pensar, seja o fato de eu mentir para mim mesma, fracassadamente. Coisas do tipo –eu-sou-feliz-tenho-tudo-para-ser-uma-pessoa-de-sucesso-amo-quem-me-ama-e-estou-enlouquecidamente-apaixonada. Aí é que vem o sacaninha do meu cérebro e ri com gosto da minha realidade ilusória, metendo o dedo fundo nas feridas que não conseguem sequer cicatrizar. É aí que surgem as fugas, àquelas horas e horas suando feito louca tentando encontrar a forma perfeita que nem sequer existe. Ou mais horas ainda enchendo a cara, e usando mais entorpecentes que o convencional para adormecer um elefante obeso. Mas a pior de todas é aquela fuga em que se passa 90% do seu dia com a bunda numa maldita cadeira, lendo todos os livros-artigos-estudos-cientificos possíveis. Pra quê? Para eu me reconfortar momentaneamente fumando um caretinha de sempre e me vangloriando que somos parte de uma geração de mulheres profissional e intelectualmente bem sucedidas e que relacionamentos são puramente coisas para os fracos. Mas porqueeeee continua esse vazio? Porque tem que ser assim? Principalmente quando mesmo sabendo que somos lindas e incrivelmente interessantes, nosso vagabundo coração bate por um sujeitinho que faz questão de jogar sentimentalidades no lixo e nos fazer sentir umas otárias quando falamos ‘te amo, meu amor’ do fundo do coração. E depois nos deixasse sozinhas sem conseguir dar nenhum movimento em direção a luz, enquanto ele, se diverte com piranhas baratas, ou garotinhas recém saídas das fraldas, onde seu único conhecimento de vida é aquele qual adquiriram lendo colunas inspiradoras da Capricho. É aí que fode tudo. A gente só sabe se jogar em alguma causa especifica para achar algum motivo para continuar existindo. São tais dias paradoxos. Repletos e vazios. Como diria meu digníssimo Caio Fernando. “Passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente limpa, aí bato o carro numa esquina, cheiro cinco gramas e ligo pra CVV as 4 da madrugada balbuciando coisas do tipo ‘eu preciso tanto de uma razão para viver.’ Um dia de Joplin, um dia de Tereza de Calcutá, um dia de merda.” Aí surgem mil personagens dentro de nós, brigando para ter uma fala principal. A malvada me manda matar todos. A mulher bem sucedida manda eu me dedicar aos estudos e trabalho e ser totalmente workholic e acreditar que isso basta. A boazinha zen manda amar a todos, compreender e analisar cada ato do meu próximo e perdoar sempre. E a mocinha estúpida me implora para eu ser burra e correr atrás do mocinho, ser idota, mas feliz. Como se a vida fosse um gigantesco roteiro, cheio de cenas, trilhas e scripts, e sem querer (ou por querer) alguém misturou tudo. Tento seguir como Tchekhov: Seja original sempre. Super complexo quando não se encontra nem seu próprio ego em meio aos papeis absurdamente trocados.
Ás vezes tenho uma certeza perturbadora: Quanto mais idiota melhor. Aos pensar menos conseguimos ser mais felizes. Mas nem eu sigo minha própria teoria.
O que deveria fazer e o que fazer?
Deveria mandar longe aquele tal que bagunçou comigo, que me tirou os sentidos e falar ‘suma da minha vida.’
Ma aí a maldita razão toma conta: “Se ele conseguiu bagunçar tudo é porque deve ter sido muito especial pra ti, então se joga mina, e agarra o bofe.”
Aí eu penso penso penso e encontro uma solução estranha: de te ter, não te tendo. Compreende? Claro que não. Nem eu mesma compreendo.
Manter uma relação saudável, madura, e puramente amigável com quem se ama. Como???
Se dá vontade de correr pra aí e te falar toda hora: “Porra cara, eu te amo, não sei o que aconteceu com a minha lógica. Mas eu te amo, então cala a boca e me beija logo, e viveremos isso. Seja pra gente se fuder mais ainda aqui um mês, ou pra nunca mais ver um fim. Mas viveremos isso.”
É possível? É.
Quem disse que alguma coisa é impossível?
Olhe ao redor. O mundo está cheio de coisas que, segundo os pessimistas, nunca teriam acontecido.
“Impossível”
“Impraticável”
“Não.”
E ainda assim, sim.
O que é necessário pra transformar um não em sim?
Curiosidade. Mente aberta. Vontade de arriscar.
E quando um problema parece insolúvel, quando o desafio é meio duro, dizer: vamos lá.
Posso estar enganada, psicótica, ou até mesmo muito louca, mas o que eu mais quero de corpo e alma, é me perder novamente.
Roubando um trecho do blog da legs:
“Eu posso me perder em você? Mas, por favor, se encontre primeiro.”

domingo, 15 de junho de 2008

Semear o amor

Chega de viver só por viver
Chega de pensar só por pensar
Faça sua mente esclarecer
Dentro de si mesmo vá buscar
Amor e harmonia, paz e compaixão
Aprenda a perdoar para obter perdão
Não espere nada em troca sem estender a mão
Para ser verdadeiro tem que ser de coração
Na hora boa ou ruim em Deus não se negue a crer
Mantenha a mente e o corpo são e não vá se corromper
Pela maldade, ganância, exploração
Que deixe o homem cego e escraviza o coração
Fazendo com que a gente viva a vida apagados
Cheios de preconceitos, diferença, alienados
É chegada a hora da gente se ajudar
Com fé e humildade, fazendo o mundo mudar

Semear o amor, dentro do seu coração
Afugentando a dor e a solidão
Quando o amor tocar o seu coração
A luz da vida vai brilhar para você iluminar

quinta-feira, 22 de maio de 2008

o amor

Muitas pessoas, digamos, na grande maioria passam a vida inteira na mesma busca: O amor. Porém, na sua grande maioria tem relacionamentos frustrantes e vazios tudo porque no fundo, estão buscando a si mesmo, e não ao outro, numa relação narcisista de si mesmo, geralmente precisa do outro para manter sua auto imagem, mas não consegue se relacionar amorosamente com ele. Mas devemos estar cientes que Vida sem amor é morte, porque só o amor pode criar o mundo humano, amar é possibilitar o exercício da liberdade criadora do próprio ser. A convivência deve se fazer o fato de somarmos diferenças e reforçarmos semelhanças.
Amores imaturos criam relações de dependência e necessidade, o que acaba fragilizando a relação.O saudável nas relações amorosas, seria, primeiro, que a pessoa já tivesse conseguido crescer até o tamanho total de si própria. Só assim se se envolve com alguém que tivesse tido o igual desenvolvimento. Assim, inteiros e juntos começariam a viver sensações inéditas, extraordinárias, impossíveis de se viver sozinho.
O amor só acontece à medida que se desenvolve a sensibilidade para com outras pessoas. O amor é o meio desenvolvido pelo homem para vencer o isolamento do mundo que ele faz de si próprio, e escapar da loucura.
Se uma pessoa ama somente uma outra pessoa e é indiferente ao resto do seu circulo de relações, seu amor, não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado.
Porém, nem todos estão prontos para chegar no topo do seu universo emocional
Fizemos de nossas vidas claustros sem virtudes; encolhemos nossos sonhos para que coubessem em nossas íntimas singularidades interiores; vasculhamos nossos corpos, sexos e sentimentos com a obsessão de quem vive um transe narcísico, e, enfim, aqui estamos nós, prisioneiros de cartões de crédito, carreiras de cocaína e da dolorosa consciência de que nenhuma fantasia sexual ou romântica pode saciar a voracidade com que desejamos ser felizes. Sozinhos em nossa descrença, suplicamos proteção a políticos, autoridades, policiais,economistas, como se algum deles pudesse restituir a esperança “no próximo” que a lógica da ‘mercadoria’ devorou.

Quando temos pela primeira vez um amor maduro, o chamado suplementar, sabemos quando isso acontece. E isso aconteceu pra mim, por tantos meses ele não morreu dentro de mim, e sempre via em você a chance de que pudéssemos ser feliz, como você mesmo me falou, que sempre imaginava que isso aconteceria de uma forma mais louca, como está acontecendo, e eu já não me arrependo de nenhuma palavra dita, de nenhuma ato feito, para que nós pudéssemos ficar juntos, porque sei que todo esse sentimento ultrapassa qualquer barreira, como nós mesmo estamos as ultrapassando para poder viver nossa história. Todo o começo de uma relação com alguém marca como ela deverá seguir adiante, lembro do nosso começo. Logo no primeiro dia já fazíamos planos de juntarmos nossas histórias, porém não imaginávamos que chegaríamos tão longe. Também recordo da primeira vez que nos falamos no telefone, aquela felicidade que tomou conta de mim, logo depois que desliguei, alo só havia uma certeza: que só você poderia me trazer tais sentimentos. Por tantas vezes falávamos que éramos os únicos que confiávamos, eu a você e você a mim, e sabemos que nos completamos. Hoje te digo com toda certeza do mundo, eu te amo. E não aquele amor, que qualquer coisa se faça esquecer, ou que seja somente uma fase da minha vida, como eu te disse a uns dias atrás, ‘eu necessito de ti, porque te amo’, e um sentimento que nunca tive igual, pois começou desde o amor, não da paixão, da forma mais pura que já pude viver. E só te peço uma coisa no momento: Deixa eu te fazer feliz?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Luto

Por mais que as coisas anteriormente não tenham acontecido como o esperado ainda havia ali uma ponta de esperança para um futuro já arquitetado. Procuro tais porquês de não conseguir largar o ‘peixe’, já havia prometido a mim mesma uma desistência, mesmo que desesperada havia prometido, eu precisava dela ali, para me sacudir e me mandar acordar, havíamos prometido desistir juntas, e quando uma de nós titubearmos entre voltar ao ciclo do passado doentio poder trazer uma a outra para realidade.
Ela não estava ali ao meu lado naqueles momentos, onde ele, com meras palavras vazias conseguia acabar com meu mundo, ou trazê-lo de volta em algum momento. Eram apenas palavras, e em mim tinha uma força quase sobrenatural pela qual eu a muitos meses lutava, precisava de alguém no instante presente que pudesse me fazer esquecer e tratá-lo como devido.
Porém não havia ninguém, por mim própria havia me excluído numa ilha só, já não tinha ninguém que trouxesse tantos sorrisos e tantas lagrimas desesperadas. Eram gostosos aqueles momentos, aquelas dores, pois ainda sabia que quase tudo de mim ainda tinha sentimentos, ainda doía, e também se alegrava. Agora por si só, aguardava o inverno que nunca iria chegar, num calor excessivo, e um frio de já não haver nada de devida importância para alterar meu estado de espírito. Sentia saudade daqueles prantos, e daqueles reconfortos abrasadores. E ele voltava de tempo em tempo, como se fosse em ciclos, para me desequilibrar sobre a linha fina na qual eu dava passo a passo meus dias.
Porque a história se interrompeu assim? Você não pode dizer que eu não tentei. Eu aguardei a cada dia agoniada para que um sorriso sincero fosse retribuído a mim, como era nos velhos tempos, você não sabe como dói, ver você indo embora de si próprio, como tenho vontade de envolve-lo em meus braços e pedir para que acorde, que volte a ser a pessoa que eu me apaixonei. E ainda aguardo para o continuar da nossa existência.Eu choro a morte, meu luto dolorido, de ver morto quem ainda está vivo. Você um dia falou que a culpada de tudo isso era eu, e que parecia que eu queria voltar num passado, mas que era bom como estava, o momento presente, que eu te visse só como amigo. Eu tentei, eu juro, te peço perdão, e suplico a mim mesma para que isso aconteça, mas é difícil quando ninguém nos traz mais emoções como aquelas que um dia você me trouxe, nossa história vivida mais em sonho do que no plano real ainda está viva em mim e me exige um final feliz que eu não consegui dar a ela, eu tentei, o cansaço tomou conta de mim e cai na desistência. Escuto a nossa musica, lembra daqueles dias onde a gente acordava as 9 para poder ter um pouco da manhã só para nós dois? Você me via com aquela cara de sono, e quando você reclamava que eu dormia demais e deixava você esperando, pois já passava das 9. Ou quando eu voltava as pressas só para ver que você estava ali para mim e eu ali para você, e que aquilo bastava pra nós, termos um ao outro. Sabia cada detalhe da minha vida e eu da sua, planejávamos um futuro onde um pedia para o outro nunca se deixar, que a nossa história não iria se interromper como as outras. Te perdoei, você me perdoou pelos meus erros, e eu te aceitei por cada acerto e você aos meus. Hoje nos finalizamos num oi e tchau, e eu continuo a te procurar em outros amores sem resultados satisfatórios, porque a gente não era só você, nem só a mim, era nós dois, onde uma história foi escrita em cima disto, e não nos encontro em lugar nenhum. Vejo o seu Eu morrendo dia a dia, e choro desamparada querendo que você volte, não só a mim, mas a você próprio, quem sabe, isso me abrande na expectativa de quem sabe um dia poder reviver cada momento. Se fosse possível que meus desejos fossem cumpridos eu oscilo entre poder voltar no tempo, e sentir a gente de novo. Ou tomar uma pílula do esquecimento, e apagar todas nossas memórias, mesmo que seja doloroso passar pela vida sem ter tido uma história como a nossa, mas seria melhor do que ver você morrer, pra mim, e pra você

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Um conto de fadas com dois príncipes

Aquela tarde escondia acasos que quem sabe um dia foram impensados por ele. O tédio constante do ‘não sentir’, já tomava formas diferentes nos últimos tempos, entregava-se entre farras insaciáveis e paixões idem, onde as expectativas de carência e desejo eram difíceis de serem supridas por um qualquer, então pensava realmente estar num estado de amor momentâneo por diversas pessoas, incluindo no enredo de seu filme, antigas carências, e atuais instantes de relacionamentos, que se desfaziam por si próprio, pois aquelas ainda não eram as histórias que deveriam se finalizar num desfecho esperado, onde o outro se torna o único. Fumava seguidamente um cigarro qualquer para talvez espantar aquela circunstância, jogado numa poltrona vermelha observava as cinzas caírem pouco a pouco naquele chão sujo, havia muitas cinzas, e com aqueles olhos demasiadamente azuis, fixava seu pensamento em nas suas emoções devidamente caladas para si. Mas sabia que no fundo esperava algo mais do decorrer dos seus dias vazios, onde a sua única espera era espantar a sua rotina desesperada, de silenciar seus desejos. Ouvia canções que só lhe traziam mais para essa realidade por muitas vezes que tentava fugir dela só o levava mais adentro, a empolgação forçada para que aquela noite conseguisse completar sua alma lhe traria futuramente mais uma noite frustrada. Saia, bebia, beijava corpos desconhecidos e alguns até repetitivamente conhecidos, mas nada daquilo era o esperado, e fingia ser, logo aquele que dava tantos conselhos para os outros de como fazer suas escolhas e poder atenuar males desnecessários, acreditava que devia seguir o coração e histórias predestinadas pelo destino, mas ele mal sabia o que era isso, seguir seu coração, pois ele nunca havia batido de forma que o fizesse perceber o que suas idéias realmente significavam no mundo real.
Surpreendido por um alguém, tão desigual aos outros quanto ele, seus pensamentos começaram a falhar entre o que suas regras antigamente impostas para relacionamentos e se viu dono de uma própria história, onde os coadjuvantes agora eram os que ele tinha aconselhado, agora o aconselhavam. Aquele outro que surgira espontaneamente na sua vida lhe trazendo prazeres e sensações que eram desconhecidas por ele num díspar de um momento anterior. Ele lhe confundia, lhe levava ao buraco negro do desespero por apenas estar presente na sua vida e já não saber mais como agir diante de situações comuns a qualquer relacionamento, mas quando estava com ele tudo parecia estar mais claro do que nunca e ansiava poder passar a vida toda naquele mero momento, em que o outro estava presente junto dele. Aquele corpo junto ao seu, já não era mais um corpo qualquer, lhe despertava emoções, e o vazio do não sentir foi suprido por uma arrebatadora paixão criada em cima do vazio de suas expectativas, pela primeira vez sabia o que era desejar outra pessoa para si para um tempo que se existisse na terra, que fosse infinito. Fugia de padrões impostos para que uma família fosse formada de homem e mulher, onde por muitas vezes casamentos por conveniência tornavam as pessoas dentro deles infelizes, e suas vidas vagas. Ali havia a possibilidade de uma felicidade que só o somar de duas pessoas para torná-la real, onde o sentimento era verdadeiro, mais do que nunca, pois tornava as sensações despertadas por esse sentir na própria pele, já não importava o gênero daquele outro, era feito como ele, tinha o corpo como o dele, e sabia que o destino deles era ficar juntos e teria que lutar para isso, já não tendo mais valor para o que os outros iriam falar, apenas satisfazer
aquele que desfez o vazio de sua vida, tal que conseguiu quebrar um ice berg que tinha se tornado sua alma.
A vida se faz de diversas sensações, e todos estão a procura delas, uma por uma, mas por mais que neguem, a única coisa que pode completar linhas em branco do enredo de suas histórias só podem ser feitas em par, e quando isso acontecer entenderá todo o vigor de cada sentimento. Mesmo que o conto de fada seja protagonizado, por dois príncipes, duas princesas, ou dois sapos. Independente de gêneros, a dualidade de um existir é à espera de todos para um continuar.

Dedicado ao meu amigo maycon

segunda-feira, 31 de março de 2008

a imbecilidade dos sentimentos

Me sinto uma idiota completa. Às vezes acredito demais nos meus sonhos e alucino futuros planejados onde parece tão próximo de se realizar, mas ao mesmo tempo tão longe, há em torno de tudo isso um paradoxo que se funde em meus pensamentos. Já tentei desistir de um sonho, não deu certo, ele continuava ali martelando na minha cabeça para que eu continuasse a acreditar nele. E eu acreditava. Nunca deixei de acreditar, quando achava que me encontrava num momento de lucidez e jogava fora numa lixeira suja meu passado, aquele momento era enganoso, pois não era lucidez, aquilo sim era minha loucura. Loucura não esquematizada, apenas uma forma insana que por vezes tomava conta do meus pensamentos, e me achava espiritualmente superior a situação e colocava pra fora meus monstros pensando estar no momento correto. Na verdade sempre era o momento errado, pois aquele não era meu eu, apenas uma parte insana que insistia em tomar vida própria, fazendo questão de que eu desistisse dos meus sonhos, ou melhor, dele. Como alguém pode se tornar tão importante, tomando um poder sobre outro, que parte das 24 horas do nosso pensamento se voltam para aquela pessoa. Quando estamos bem, se voltam em pensar como é maravilhoso viver aquele momento, e assim, quando longe, o desespero silencioso de dentro das nossas fantasias em fazer que aquilo tudo volte, como reconquistar o inalcançável e às vezes como uma visita inesperada, volta a mim a forma insana que suplica por uma desistência, quando o que eu mais quero é tentar.
Talvez, não valha a pena, e eu nem seja retribuída gentilmente. E ele me olhe de forma que seria impossível de compreender o porquê de eu não conseguir desistir dele. Nem de nossos sonhos. Por vezes que parecem que esses devaneios continuem a existir somente a mim, e eu parta novamente a reviver num monologo, mas que me parece mais agradável de existir numa dualidade onde o outro não me interessa e seria apenas uma válvula de escape por não ser ele que estaria completando aquelas faltas.
Aquele nervosismo pré-encontros-planejados-com-novas-paixões-desconhecidas tomava conta de mim novamente, mas não por um outro qualquer, mas ainda por ele. Volto a me sentir uma imbecil. Houve tempos em que eu lembrava de certas magoas e chutava um móvel qualquer e esquecia dos nossos sonhos naquele instante, como aqueles pensamentos jogassem um balde de água fria nos encantamentos juvenis. Fujo, fujo, fujo. E volto como um cachorro, molhado e abandonado, com olhos piedosos, pedindo ‘eiii, olhe pra mim’, e ser retribuída num olhar de canto de olho, e se encher de esperanças, pelo mínimo. Não que eu esteja exigindo, apenas ficaria muito feliz se isso espontaneamente acontecesse, acontece que é pior, muito pior o momento. É estranho um dia ter sido a única para ele, quando no momento de hoje se só mais uma. Um dia ele me dizia o certo e o errado, e eu fingia não escutar, por apenas achar que o que ele pensava sim era o errado, e nós nos perdemos em destinos incertos, e na continuidade do monologo eu resolvi testar o errado pra mim e o certo pra ele, e passei a me sentir muito melhor, parecia que parando de cometer loucuras, e prejudicar a mim mesma era bom, me fazia bem, que o antiga certa maneira revolta de autodestruição não passava de uma vida vazia, onde eu conseguia escapar dos meus problemas, dos nossos problemas, e nunca os resolvia. Hoje, eu não estou mais escapando dos problemas como uma bicha covarde, e estou enfrentando lucidamente, e também não os consigo resolver, mas os enxergo como nunca, e o quão eu fui inconseqüente com aqueles atos involuntários de praticamente jogar tudo pro alto e dizer ‘foda-se’. Sim, foda-se, quem se fudeu forte e unicamente foi eu mesma. Espero que ele tenha ficado bem. É estranho pensar ter encontrado o amor da sua vida, a gente se liga de certa forma a essa pessoa de forma enigmática, que mesmo que pra essa pessoa você seja só um amigo, ou um ex affair que deu errado, a gente continua a produzir e reproduzir fantasias exacerbadas em cima daquilo e daquela pessoa, e a gente passa a se sentir como uma lunática obsessiva. Então, to aqui como uma idiota com alguma síndrome desconhecida falando que eu amo, amo e amo. Como nunca foi possível antes. E fico aqui pensando nele, e planejando que um dia eu vou sair correndo vê-lo e tudo será lindo como um filme fofo que passa na sessão da tarde. E me sinto logo depois uma culpa enorme, você entende? Tipo comer e vomitar depois. Um dia ele também sonhou isso comigo, talvez hoje em dia ainda sonhe um pouco, mais um dia amamos paralelamente, e hoje sei que o que eu sinto extrapolou os limites da razão, e acho que para ele está tudo bem, talvez ainda deseje um pouco, mas por algum flash de pensamento, enquanto eu, ainda continuo todas essas horas pensando. Acho que meu cérebro vai explodir. Então escrevo textos cheios de metáforas tentando expelir sentimentos com a tentativa desesperada de me sentir talvez com pesos a menos no coração e na consciência. E por final me sinto uma imbecil pensando se mando ou não mando o que eu escrevi, se falo ou se não falo tudo que sinto. E quando falo me sinto pior ainda pensando o que o outro ira fazer no outro lado da tela quem sabe pensar que sou uma lunática e eu acabo num misto de vergonha e orgulho de mim mesma. Então que se dane tudo, que me ache uma idiota, que me ignore, que me esnobe, ou que me iluda. Mas eu o amo, e o pior que pode acontecer entre tudo isso é nós não ficarmos juntos, então alivio meus julgamentos, pois sei que se um dia eu estiver com ele, todas minhas imbecilidades julgadas por mim própria, serão então absolvidas, pois as tentativas não foram em vão.

quinta-feira, 20 de março de 2008

A falta

Por mais que as coisas fluíam com leveza, algo ali parecia irrequieto. Enroscava-se entre os lençóis, e indócil não encontrava nenhuma serenidade, entre pesadelos e pensamentos indigestos parecia não conseguir acordar. Estando completamente submersa naquele estado de quase transe. Sentimentos não revelados se confessavam ali, acordava ansiosa, a espera da recíproca não conquistada.
Naquele letargo, uma figura atípica lhe falava: Isto é apenas a forma sintetizada do Eu de todos, onde sempre existe o bem e o mau. Enquanto isso aqueles castelos, se tornavam ruínas, assim como si.
Acordava exausta, de tantas fugas e assombros vividos naquela noite. Alterava-se entre entender suas entrelinhas e então se atirava num entregar profundo de aceitações. Mas só, num estado meditativo não enxergava o que ainda havia ali, a Falta. Sentia-se completa, estava amadurecendo, e todo aquele presságio lhe trazia bons frutos. Porém submerso a aqueles sonhos, a falta continuava veemente. Então arremessava entre choros penosos, até que seus lábios estivessem completamente inchados e seu rosto transfigurado. Chorava pela falta. Comia compulsivamente onde pensava que então aquilo lhe confortaria. Na verdade só enchia seu estomago. A Falta estava puramente na sua alma. Culpada, e cúmplice de si, dirigia-se calmamente a uma privada qualquer, ali se ajoelhava como se fosse um altar, entre respirações profundas e culpas encravas, vigorosamente enfiava seu dedo indicador na sua garganta, sem dó. Vomitava compulsivamente, como se aquele ato a redimiria de suas culpas. Acabado o martírio então se achava digna de prazeres momentâneos, fumava um cigarro mentolado calmamente, e então voltava a si. Sem perceber que a auto destruição estava presente no seu cotidiano doentio, a procura de poder cicatrizar seu falsear.
Na mesma semana, um tanto de fulgor começava há clarear aqueles dias, a grande descoberta. Descobriria então a falta. Falta de si própria que consequentemente lhe causava suas árduas desilusões. Sua única veleidade era que tudo aquilo fosse recíproco, mas num passado, ela mesma havia desiludido suas esperanças e logo a do outro. Neles haviam se extinguido, pois ela mesma havia feito questão de fazer esse afazer. Porém nela, havia sido mais um equivoco, permaneceram presentes, em cada dia, hora ou segundo da sua existência, lhe causando males desmedidos, porque sabia que a única culpada era ela mesma, aquele reflexo mitigado ao espelho. Quase já irreconhecível a ela. Tentava recuperar suas perdas insistentemente, e não via nenhum resultado.
Nefasta, dormia por 15 horas seguidas, e desejava que tudo aquilo passasse rápido, e assim, se demorava mais ainda a ultimar. Deveria ter uma saída, uma solução. A buscava compulsivamente, pois sabia que em algum momento aquilo havia de ser suprido, talvez por um esquecer obvio do passado desmantelado, ou a visão de um novo futuro estimulante para que houvesse forças para ser seguido.
Nenhum futuro lhe parecia animador. Nada era o esperado. Pois no seu intimo, sabia que a falta só seria atenuada, quando aquele passado fosse enfim consolidado. E conhecia este caminhar, por visões ou devaneios, mas o conhecia, e sua percepção lhe dava avisos que estava próximo o capitulo posterior, anteriormente ansiado. Só assim poderia voltar a sonhar, dando espaço a novas histórias, ou reconstruir aquela passar antiga. Só precisava de um sim, e iria esperar, por ele.

Em órbita

A diferença entre impor uma nova proposta de vida, e segui-las pode ser a grande defasagem de ser e desejar ser. Imaginamos um futuro idealista, onde não fazemos esforço algum para atingir metade dos desígnios sonhados.
Desta vez, ansiava pelo diferente, para que cumprisse e praticasse todos os esforços pelo final propósito. Então se contradizia entre empurrar mais um dia qualquer, ou continuar tentando. Estava firme de si, e faria o além-mundo para conseguir. Há quase uma década chegava sempre no ‘quase’, chegou à vez de atingir o final, e descobrir as sensações que ele poderia causar. Teria que se jogar numa exaustiva jornada, onde no momento sempre aparecia coisas mais interessantes a fazer, do que seguir seus objetivos. Estava ali o erro: as distrações. Havia lhe dado prazos, e desta vez, não seria em vão seu esforço.
Flutuava numa água límpida, já não sentia mais a gravidade de seu corpo, nem o peso de seus pensamentos, era só ela e água. O céu naquela noite parecia estar contribuindo pelas tais sensações vividas naquele instante, a noite escura, com estrelas, algumas já não existiam mais, e continuavam a expandir seu brilho, refletindo em si, toda a claridade daquela noite, onde o fulgor e penumbra se liquefaziam num único horizonte. Assim como ele, ela se fundia em nada. Era apenas alma, seria capaz de alucinar estar morta, e só podia sentir sua essência. Já não era nem homem nem mulher, nem adulta, nem criança. Era como aquelas estrelas, que entre luz e sombra se unificavam num embaraçar indecifrável, assim como era o universo, pela primeira vez, sabia e se sentia parte dele. Cheio de estrelas, buracos negros, explosões, formas de existência, e sua própria expansão e contração natural. Recriando-se a cada segundo. Assim como ela.
Éramos parte disso. E fingíamos não saber, quando no fundo todos sempre compreendíamos, e pensávamos que não. Quem sabe, por maquinal das coisas, ou regras meramente enganosas. Sentir-se assim, era como se recarregar numa nova reencarnação. Criança posta a viver e refazer sua jornada.
Ali estava a altercação para não fugir do final, havia se recarregado. Poderia pela primeira vez saber qual era aquele sabor de conquistar a chegada. Mas ainda teria que esperar seus dias, pois ainda não era a hora.

Solilóquio

Acabar com as próprias esperanças é tão complexo, quanto pessoas alheias acabarem com esperanças de outrem. Por mais árduo que seja às vezes é imprescindível. Quem sabe por uma proteção natural para evitar póstumos sofrimentos; desistir.
Naquele momento, o chá quente de camomila com um pouco de mel lhe trazia um cínico conforto, de que tudo estava bem. Aquecia sua garganta, sentindo pequenas queimaduras ao descer daquele liquido tranqüilizante. Não tantas, quanto às queimaduras que a feriam por dentro. Seu olhar se comprimia num único ponto imaginário, a busca de uma solução rápida para que talvez ainda existisse algum escasso pretexto para continuar tentando. Não havia. Já havia persistido demais numa causa onde só conseguiria cavar sua própria cova, era a hora de tentar curar seus cancros e poder seguir, no tal plano B desesperado.
Não iria mais cair em joguetes, nos quais estava em jogo seu próprio destino, dessa vez, as coisas já não pareciam mais tão duras. Calejada de outras ocasiões onde àquela história se reproduzia insistentemente. Já não havia mais dores, porém mais intenso que isso latejava o peso denso do fracasso. As estratégias haviam se fundido numa derrota, e a coação de continuar existindo era uma tarefa um tanto sacrificante, mas permanecer com a antiga vitalidade era imperioso. Sabia que aquela perda não era uma avaria qualquer, mas sim um abdicar de uma quimera, caindo das nuvens, pra uma realidade absorvente.
Ela estava ali, presente, sem mais ilusões, sabia que a principal causadora disto era ela mesma por situações passadas onde falsas expectativas haviam lhe feito agir de forma equivoca com seus próprios sentidos.
Num passado distante, já pudera conviver com ensaios de outros numa realidade que era sua própria no tempo presente. Havia desejado poder também ser daquele teor. Parecia impraticável, mas, contudo cobiçava viver daquela forma. Chegou o dia que isto aconteceu, estava como sempre desejava: como aqueles outros viviam e lhe relatavam ser. E não era como esperava que fosse.
A partir daquele momento seria assim. Por mais excêntrico que fosse para uma pessoa que um dia se derretia em amores e ódios turbulentos, viver sem sentir. Anulava seus sentimentos ao extremo. Suas prioridades passaram a ser secundárias, e seus sonhos, começaram a se tornar inúteis, pois o próximo a sua volta não faria o mínimo esforço para tentar vive-los.
A derrota passou a ser vitória num póstumo momento. Pois ela sabia que havia tentado, e arriscou até os últimos segundos, ainda que o grito histérico no seu peito abrisse forças para mudar de chão, num passar dum presságio. E eles, mal haviam se levantado da cadeira para dizer que haviam desistido, permaneciam ali, apáticos e néscios num fato onde se carecia de respostas, por mais duras que fossem. Ela as respondeu, estava exausta, e precisava dormir respirar, e viver sem passar os dias na expectativa de rebate do outro, aquele outro que nem se quer levantou-se pra dizer um não sonoro, para aliviar, e acabar enfim com aquela história, na qual, ela própria tratou de quebrar os laços.
Cortava eles com cuidado e simultaneamente abandonava-os então, como uma mãe desnaturada, deixando um bebê recém nascido numa porta qualquer. Desobrigava-se de uma história onde a única personagem viva era ela própria. Fadigada de monólogos. Entrou cada vez mais num monólogo sem fim, na tentativa de poder fugir deles, os adentrava cada vez mais pujante, cavando um poço pelo qual escoava seu liquido vital entre suas fendas.
Libertar-se, já não era penoso, mas escapar de promessas falidas havia a tornado mais só do que ficar a espera delas serem compridas. O palco escuro, com o divã antigo de arte renascentista a aguardava, para o continuar de um existir, pelo qual o acaso lhe reservava somente, o frio enérgico de um solilóquio. Assim frigidos por fim.

terça-feira, 4 de março de 2008

Perfídia

O metrô demorava a vir. Impaciente e colérica apertava seus dedos entre as mãos da forma mais vigorosa possível. Seus olhos castanhos intensos expressavam pura fúria, desejava um explosivo forte, um TNT que explodissem todos eles. Todos aqueles que a atraiçoaram pelas costas. Eles não tinham limites, eram egocêntricos e individualistas. Um dia havia acreditado neles, tinha-os amado, e aberto mão de diversas coisas por todos eles. Tomava partido, comprava brigas, e ofensas. Porém no final, todos se resolviam, e a deixava de lado em busca da sua própria felicidade, enquanto ela só desejava a presença deles. Traída, cobiçava a queda dos seus desleais aliados.
Fazia planos, arquitetava venenos, o ódio de uma pessoa traída poderia provocar a queda de outros tantos, e principalmente de si. Seu único desejo era a infelicidade deles, e com isso, acabava atraindo sua própria desgraça. Fumava, bebia e comia compulsivamente, aquela ira desgraçava seus dias. Apetecia no seu íntimo para que a justiça fosse feita, nem que fosse pelas próprias mãos. Ser traída por um parceiro ou um amigo poderia ser difícil, mas ser atraiçoado pelos seus progenitores parecia algo inesperado. As conseqüências eram graves, todos a sua volta lhe pareciam falsos, se seus pais foram capazes de lhe trazer seu próprio infortúnio, o que poderia vir do próximo? Havia passado dois anos tentando unir aqueles dois, cometeu claudicações por eles, engolindo sua própria estima. E quando tudo aboliu, lhe viraram a costas e só pensaram em si próprios. A raiva consumia, seria capaz de matar, se melhor fosse, não só a eles, mas todos os envolvidos na história. Já não temia mais nada, e isso era perigoso para qualquer ser humano: O não temor.
Mas aquilo feria a ela, desejava muito não ter aqueles sentimentos, pois não era uma má pessoa, apenas alguém que se sentia injustiçada. A ira poderia lhe causar males impossíveis de serem medidos num futuro próximo. Seus sentimentos se confundiam e entrelaçavam-se novamente. Como um expandir e contrair sistemático.
Por vezes, sentia pena, e tentava ver as coisas de um ângulo menos maléfico. Então passava um dia bem, fazia ligações e sentia algumas nostalgias de um tempo onde tudo dava certo. Porém esse dia passava, virava mais alguma noite entre seus escritos, e outras tarefas e todos os sentidos se contradiziam, e lhe vinha uma vontade quase irrefletida de arrebentar a cara de todos seus traidores. Feroz agia como vilã, pensava na grana que poderia vir com isso, e a justiça feita, era isso que eles mereciam. Por outras vezes acreditava que a vida poderia ser mais dura para eles, a morte seria talvez uma benção, e ela não desejava isso, para ela, se alguém merecia ser infeliz, e cruelmente torturados eram eles, até que não suportassem mais a vida.
Mas no fundo algo tomava conta de si, e abrandava seus sentimentos, como uma mão divina. Desejava paz e seguir tudo adiante esquecendo o que passou, junto com seus martírios, imêmore dos fatos. Talvez eles não tivessem feito por mal, só estavam imaturos ainda para enxergar. Fingia. Havia se tornado uma fingida de marca maior. E só assim conseguia levar seus dias e noites. Possuía características jamais imaginadas por ela, o ódio mudara seu comportamento, e seria capaz de qualquer coisa dali em diante.
Contradizendo todos os fatos, lia, praticava e sussurrava frases positivas, e tentava afogar suas mágoas ao mesmo tempo em auto destruição.
O ódio ganancioso parecia uma nova forma de existência. Mas pela primeira vez lhe tinha feito chorar. Sentimentos gelados geralmente não se escoavam em lágrimas, mas desta vez haviam se fundido em num choro desesperado. Talvez, porque não fosse somente ódio.

A Espera

O telefone toca. Ela se quer levanta-se daquela poltrona para atender, pois não era o chamado esperado, a tal resposta pela qual movia seus dias. Inquieta, andava de um lado para o outro, roia o resto de unhas que ainda restavam nos seus dedos longos, fumava mais um cigarro qualquer, já acendendo o próximo na brasa do mesmo. A resposta talvez nunca chegasse, ou quem sabe fosse meramente respondida de forma afável, porquanto, saber que alguém possuía sentimentos em cima de si, aquecia o ego, resultava por vezes deleito para alguns.
O fim de semana seria longo, quem sabe ele nem fosse ler aquelas declarações. Ou apenas achar mais uma asneira vinda dela, fulana estranha, que transbordava paradoxos nas suas frases medidamente digitadas, porém repensadas inúmeras vezes antes de serem enviadas para ele. Imponderável, gastava parte de seu tempo pensando num transcorrer utópico de uma fábula criada por eles. Mas ela queria arriscar, pois no seu imo, algo dizia que não era para desistir disso. Seria como abandonar uma história nos primeiros parágrafos. Histórias não eram concluíam assim, precisava-se de desfecho, por mais duros que fossem. Ela tentaria. Nos últimos tempos já não desistia fácil das coisas, mesmo que elas fugissem de si.
Planejou distrações, para seu corpo, alma e mente. Para que a resposta viesse serena, sem o pulsar repetitivo da aflição da espera. Deveria quem sabe encontrar alguns amigos, cair numa farra qualquer, fingindo estar tudo bem, e que no ponto médio do decorrer da noite, tudo realmente estivesse bem, nem que fossem por minutos ou poucas horas a seguir, por emoções forçadas. Por algumas vezes sentimentos artificialmente provocados só a levavam cada vez mais para a realidade, e todos os anseios que sentia por ele, e por sua espera.
Procurava num poço escuro a saída para tudo isso. Acreditara demais naquela fábula, e persistia nela. Foi aí o momento oportuno para despejar então palavras impregnadas de sensibilidade instigadas por ele. E só bastou um sinal para o estopim da explosão de sentimentos. Não sabia se aquele sinal era veraz, mas confiou na sua intuição para derramar parte dela, para que ele a conhece-se, e almejava que ele retribuísse.
Sua cabeça fervia em idéias e planos perfeitos para conquistar o inconquistável. Destruía sonhos alheios por passatempo, no final apenas para tentar suprir seus desejos íntimos, que por ele um dia foram afagados docemente, e sentia ausência. Substituía-o entre garrafas de vodka jogadas num terreno qualquer, junto com carteiras vazias de algum cigarro, entre amores e prazeres culpados. Não suportava mais essa rotina doentia, e se jogou num mar violento, para que as ondas pudessem quebrá-la ao meio, ou então jogá-la numa ilha fleuma, que dentre suas areias finas e brancas, a cobririam seu corpo como um manto, ou simples colo de mãe, que a diria que está tudo bem, que já poderia dormir em paz.
Havia passados poucos segundos, mas seus pensamentos frenéticos lhe davam a impressão de que horas teriam se passado com eles. O telefone continuava a tocar, ela levantou-se calmante, apagou o cigarro na metade, o deixando entre as cinzas, e procurava entre a desordem o aparelho telefônico, enquanto cantava como se não estivesse a mínima pressa, that's what you get. Enfim conseguiu encontrá-lo, seus dedos compridos de unhas ruídas apertaram o send com força e certo desespero.

- Alô?
- Gostaria de falar com a Vilma.
- Não mora ninguém com esse nome aqui.
- Ah! Desculpa foi engano.
- Sempre é.
- O que você falou moça?
- Falei que era engano.
- Ah! Sim, engano... Tudo bem, obrigado.
- De nada.

Desligou e voltou a se encontrar nos seus pensamentos. Enganos. Sempre são enganos. Mas daquela vez sabia que para ela não seria engano. O desfecho esperado poderia não chegar, mas seus sentimentos, por ele, nunca seriam enganosos.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A imortalidade das raízes

A respiração profunda e o semblante terno só escondiam um único fato. O fato de que dentro dela, emoções mórbidas e silenciosas já brotadas há muito tempo permaneciam ali vivas. Brotar. Como assim brotar? Emoções não eram como plantas, porque aquelas que estavam ali já não haviam sido regadas há muito tempo, pelo contrário, já haviam sido pisadas, esmagadas, queimadas e afogadas, mas no fundo daquela terra, de certa alma, suas raízes permaneceram imóveis, e sem sentido continuavam a brotar. Como plantas imortais, com os sentimentos mais celestes, algo de profano existia neles.
Algo encravado havia. Coisas que nem o melhor solvente conseguiria abater. Dentro dela esses tais devaneios permaneciam fixos, junto com desejos oníricos, ordenado a uma fisionomia por vezes vã. Um dia aqueles sonhos foram compartilhados, mas com a desintegração daquelas duas almas, deveriam extinguir-se então tais devaneios. Porém não foi o que ocorreu.
Sonhava só, como se o decorrer desse sonho tudo continuasse existindo como era anteriormente. Um passado próximo, mas que para ele aos olhos dela, parecia ter se suprido no espaço. Talvez numa atmosfera distante existisse um passado jogado ao vento.
Aquelas sensações continuavam brotando, carregando certo desespero agudo, acoplado seguidamente de uma paz. Mas era uma paz tão branda que seu corpo ali imóvel ficava, tomado por uma morfina qualquer naturalmente produzida pelas tais raízes, presas em si.
Os esforços pareciam em vão, entretanto a certeza de um final feliz lhe dava a seiva de continuar persistindo numa causa que o único fundamento era um mero sonho. Sonhos que um dia viveram dentro deles, e naquela época era pleno alento. Alento que manteve dentro dela a certeza de um futuro que não veio a ocorrer, porem seus efeitos colaterais eram mais violentos que cocaína. O vicio. A fissura. O desejo. O ódio. E a satisfação.
Respirava tais raízes. E se arrebatava então entre esperanças de palavras um dia citadas por alguém que parecia ter esquecido ou desejar esquecê-las, jogado-as no ar, para que o universo as dissipasse.
Seu único anseio era para que suas plantas fossem regadas. E que voltassem a brotar, porém não só. O estar solitário não era necessariamente o estado de encontrar-se sem ninguém. Mas sem aquele que faziam crescer suas raízes, e cuidá-las enfim. Estava tão distante, não só carnalmente, mas seu íntimo estava longe. Parecia recuar-se então quando ela instigava a mostrar que estava presente. Encontrava-se onde sempre esteve; sentindo os mesmos anseios. E desejava, ah! Se desejava que ele também os pudesse sentir. No fundo acreditava que tudo aquilo ainda existida nele, e esperava que só bastasse certo tempo para que tudo se conduzisse ao desfecho esperado. Como sempre foi.
Quiçá desta vez seria diferente, e se díspar de fases anteriores onde à certeza de que no final tudo daria certo aliviava as emoções chafurdadas dentro de si. Desta vez, por diferente que seria o desenrolar do enredo, não seria fácil matar suas emoções e se entregaria a lastimar por dias, tentando seguir num futuro ilusório, um plano B de vida criado no desespero de um suplício.
Contudo, as raízes permaneceram fixadas numa única alma, a espera do outro para que fossem, quem sabe, um dia regadas novamente, pela singular causa quão as tornavam imortais.

Acorda menina!

Você sabe a dor e a beleza de estar numa das melhores fases de nossas vidas? A adolescência? Parece simples. E tudo deveria se encaminhar como um filme da sessão da tarde, onde meninas loiras, peitudas, líderes de torcida, são felizes, passeiam pelo shopping com as amigas, e namoram os bonitões da escola, que com eles vão para festinhas particulares esbanjar juventude e a beleza digna dessa fase. Mas nem para todas é assim. Ou melhor, pra grande maioria não é assim. Meninas de treze á dezessete anos passam por muito mais coisas do que simplesmente a vida perfeita de um enlatado filme americano. Há sempre aquele príncipe que não sabe nem da nossa existência, ou aquele que finge saber para depois como se nos acordasse de um sonho fale: ‘acabou’. Há aquela espinha que insiste em crescer bem no meio de nossa testa, ou o fato de que fulaninha da série superior é muito mais gostosa. Como crescer faz a gente sofrer, e torna uma das ‘melhores fases da vida’ numa torturante experiência. A gente não sabe quem é, e pensa saber. A gente não sabe do que gosta, e pensa gostar. Nossos melhores amigos dessa época, os tais que contávamos todos nossos segredos, muitos vão sumir. Nossos amores também. E a gente cresce... E tudo passa, e daí vem a saudade de voltar tudo atrás e ter aquelas antigas preocupações com a espinha na testa. A gente cresce menina, e vê que o fato de ser rejeitada, ou traída, são coisas naturais da vida, e isso não vai se tornar mais fim do mundo. Com o passar do tempo aprendemos a nos conhecer e descobrimos que o amor próprio vale mais do que qualquer coisa, e a partir do momento em que nós somos apresentados a esse amor, nada mais nos atinge. Aprendemos a apreciar nossa própria companhia e saber nos dar valor. Pois mais do que ninguém, só você pode conhecer você mesma, e saber da felicidade de ser quem és.
Ah! Se eu estivesse enxergado tudo isso no auge dos meus 15 aninhos... Seria menos martírio e uma experiência menos torturante do que realmente foi. Mas a gente só enxerga quando a vida nos dá uma lavada, um tapa na cara e fala: Acorda menina!
E a gente acorda, viramos adultos. Muitos pioram todas as situações e transformam a vida mais penosa do que realmente é. Em compensação outros, transformam tudo numa dádiva divina. Então chegou a minha vez de tomar o papel de vida e falar: Acorda menina! Você tem qualidades que a fulaninha gostosinha não tem. Se aquele cara infeliz não te quer, é porque não te merece (eu escutei isso mil vezes e nunca entendia), mas realmente ele não te merece, a pessoa que recusa uma oportunidade de ser amado é porque não está maduro o suficiente para entender isso. Se você tem uma amizade falsa, não tenha ódio, apenas pena dessa pessoa, pois falsos amigos são geralmente nossos maiores fãs, mas com desejo oprimido de inveja, e tenha pena, pois só você tem todas as características desejáveis por eles. Então menina, acorda, sorria, e esbanje da vida na graça da melhor época de nossas vidas. Se jogar numa musica brega, e faça tudo que sempre quis fazer. Não há júri suficiente para te impedir de ser feliz.
- Se a vida gasta em você, te faz de pano de chão, fica tranqüilo porque nada é em vão, o que se tem a fazer é relaxar e beber... Nada vibra mais que a vibe da tua alma... Felicidade é um fim de tarde olhando o mar, a gravidade não me impede de voar, longe de toda negatividade a onda boa se propaga no ar –.
Atraia o que você deseja atrair. Não pense no que você não quer. E o mais importante, viva.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Chegou a hora de viver

São exatamente, 19 anos, seis meses, 7.030 dias, 168 mil e 720 horas de vida, mas quando que pude viver intensamente, sem receios, ou medo de trair meus ideais, o acabar me machucando? Seria viver? Acho que tive momentos intensos, e marcantes, e pessoas importantíssimas passaram em cada um deles, mas agora, paro e penso: Eu me doei a aquele momento, ou seja, eu o vivi intensamente? A resposta apesar de carregarem certo peso de fracasso, é não. Não os vivi. Já fiz de tudo, já li de tudo, já fui de tudo. Mas não fiz desse ‘tudo’ intenso o suficiente, junto disso vem a sensação de que poderia ter sido melhor, poderia ter me jogado em cada história. Viver intensamente não significa encher a cara de drogas, cigarros, bebidas, tesões, viagens, paixões. Mas sim, viver cada momento com toda sua intensidade, sem medo de se machucar, de morrer, de se decepcionar, de decepcionar os outros, apenas viver. Tão simples, porque complicar tanto, com tantas regras e condutas sociais? MEDO. Palavra constante em nossos atos, medo de ser sincero, medo de ser ridicularizado, medo de se machucar, medo de queeeeeeeeee? Medo de viver?
Por muitas vezes não demonstrei nos meus atos por medo de ser julgada, por medo de ser expulsa de casa, por medo de ser expulsa da escola, por medo de perder, por medo de ganhar, medo, medo, medo.
Cometi um assassinato. Por outras vezes disse que matei meus amores. Por quê? Medo.
Hoje mato o medo. O mato, o sacrifico, o humilho. Chegou à hora de viver. Porque o que eu chamava de viver, era apenas medo. Resumo-me em carne, osso, sangue, água, mulher, humana, menina, que chora que berra no travesseiro para espantar nuvens negras acima da minha cabeça, rio, ah! Passo mais que parte do meu dia explodindo em risadas... Mas sempre o medo. Matei fria e calculista.
Agora estou pronta. Pra viver. Soa estranho... Como assim estar pronta pra vida? Estou pronta pra ir aos céus, e estou pronta pra cair e quebrar a cara no chão. Estou pronta pra viver um grande amor, estou pronta pra me doar, estou pronta pra ser amiga pra ser filha, pra ser mãe. Estou pronta pra ser feliz, triste, mas mais que isso, estou pronta pra passar pela vida sem medo dos olhos em fúria do júri. Estou pronta pra falar que amo, estou pronta pra falar que odeio, e viver, viver, viver.
E ser uma nova pessoa. O mundo não precisa de uma humanidade melhor, mas sim uma nova humanidade. A nova humanidade concebe em todos nós, mas com outra concepção de conciência. E ser livre pra mudar, e se adaptar a cada sensação. Há certo tempo estou realmente me esforçando pra anular ao máximo meus hábitos ruins, pois essa nova conciencia tomou conta, para que eu pudesse viver sem medo, e parar de me esconder atrás de mascaras de ‘bad girl’. “Logo eu, que sempre achei legal ser tão errado”. A gente muda. Mas as sintonias continuaram ligadas. E a promessa de viver intensamente cada uma delas parte daqui. “Diferenças sim, mas nunca maiores que o nosso valor.”



Peguei aquelas frases em aspas de vícios e virtudes, relembrando alguns anos atrás essa tal trilha.

Novo dia, nova vida

Algumas questões da vida se tornam tão repetitivas que junto delas vem frases e pensamentos que soam como clichês. Talvez estejamos andando em círculos? Não, círculos nunca, mas sim como espirais, pois o caminho pode ser parecido, mas sempre em cada passagem há uma perspectiva nova, uma visão diferente. Na vida há questões difíceis de serem resolvidas, mas a saída sempre está ali, na nossa frente, porém os problemas nos confundem, e fica praticamente impossível achar a saída, mesmo ela estando dentro de nós. “A vida é feita de escolhas”, escutamos essa frase frequentemente, e isso torna tudo mais confuso do que parece ser. Como assim, escolhas? Como se fosse simples, como escolher entrar pela rua da esquerda ou da direita, procurando um local, sem saber o caminho. Mas uma coisa que nunca reparamos; Dentro dessas escolhas estão sensações, sentimentos, ‘feeling’... Como quer que seja o nome. Escolhas certas? Escolhas erradas? Não sei dizer se nesses momentos há o certo ou errado, mas com certeza, existem aquelas escolhas que fazemos porque realmente acreditamos, e desejamos fazê-las, e há aquelas que fazemos por simples medo. O caminho mais curto e reto, a saída que parece ser certa talvez não seja a mais reconfortante. Quando fazemos nossas escolhas com paixão, vem junto com ela à segurança, e a sensação de força interior junto dela. Quando fazemos nossas escolhas por medo, mesmo que seja ‘o certo a fazer’, junto vem o receio, o que contribui para que as coisas não tomem o rumo esperado.
Nesse fim de semana, tudo pareceu dar errado, e no fim de domingo tudo pareceu dar certo, pois o lado de ver as coisas de outra forma pareceu mais evidente em mim. Aconteceram coisas que não previ; algumas decepções, e certas duvidas de que se minhas escolhas estavam certas. Junto disso, veio uma carga de emoções também não planejadas. Porém, domingo à noite aconteceram fatos que merecem um pouco de riso agora, mas que no momento foram extremamente desesperadores. Naquele momento uma pessoa querida que estava junto falou: “Respira. Relaxa. E tenha fé.” Não fé num deus, ou em algum ser superior, mas sim fé em nós mesmos, que se nós acreditarmos, tudo dá certo. Fechei meus olhos, e acreditei, e aquela mão perto de mim que também acreditava, juntas tínhamos uma única força, e fé em nós mesmos, e tudo deu certo. Mesmo sendo uma coisa singela, uma situação mesquinha, aquela fé em mim mesma me trouxe certezas pra ver que a solução pra tudo estava ali na minha frente, só faltava eu respirar, relaxar, e ter fé em mim. Então vi que nada foi decepção que a cada não, me surgem milhares de ‘sins’, só faltava eu enxergar. Que minhas escolhas façam valer a pena, pois eu vou fazer por todas elas, porque viver com medo, não é viver. Preferindo viver sempre uma vida com felicidades intensas e decepções mórbidas, do que viver aquela vida morna, e com o cinza escuro do dia de quem não sabe o que é ser feliz por intenso nem triste. A luz precisa de sombra pra ser.

Que essa semana seja maravilhosa para todos, pois sei que a mim, começo uma nova fase, e que há de ser incrível. “A dor e a alegria de ser quem eu sou”.

Beijos a alguns amigos distantes que estou com muita saudade. Também aqueles que estou próxima e ás vezes pareço distante. Tudo é fase, tudo muda, mas as experiências são eternas. Talvez meu ciclo de amizade de hoje seja oposto do de amanha, como o de que era ontem, mas só agora pude ver, que mesmo havendo separações, cada um foi eterno. E cada momento singelo, torna-se marcante.

Plágios do meu Eu

Quanto a mim, fico por aqui comparecendo a atos públicos, entre uma e outra carreira, pichando muros cheios de terrorismo poético, em plena ressaca, um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Teresa de Calcutá, um dia de merda. Éramos diferentes, ai como éramos diferentes, éramos melhores, éramos mais, éramos superiores, éramos escolhidos, éramos vagamente sagrados, mas só conseguir te possuir me masturbando, pois tinha a biblioteca de Alexandria separando nossos corpos. Não que fosse amor de menos, dizíamos sempre o contrário, era amor demais, você acreditava mesmo nisso? Naquele bar infecto onde costumava afogar minhas impotências em baldes de lirismo juvenil, imbecil, e eu disse não; é como bons-intelectuais-pequenos-burgueses, havia em tudo uma narração de um filme alternativo qualquer, onde traços e cores sempre estiveram presentes demais, talvez acima de real-virtual, amor-sexo, fidelidade-lealdade. Angústia, tempos de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas histórias de atraiçoamos-todos-nossos-ideiais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, burra, gorda, alienada e completamente feliz, cara. Já li tudo, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora o que faço? Já sei tudo de mim, tomei mais de cinqüenta ácidos, fiz anos de psicanálise, já pirei de clinica, lembra? Não estou bêbada nem louca, estou lúcida pra caralho, e sei claramente que não tenho nenhuma saída. Passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina. Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante.
Naquele momento especifico, por uma predileção, tendência, símbolo, sintoma ou como queiram chamá-lo, pessoas, ao rock inglês alternativo, aos cafés amargos, aos tabacos fortes. E ao fato de haver uma história em suspenso? Não digamos assim, pois uma história nunca fica suspensa: ela se consuma no que se interrompe, ela é cheia de pontos finais, o que a gente imagina que poderia ser uma continuação não passa de um novo capítulo, eventualmente conservando as mesmas personagens do capítulo anterior, mas seguindo uma ordem cujas regras nos são ilusórias, às vezes familiares? Ou inteiramente aleatórias? A verdade é que se chega sempre longe demais quando não se quer ir direto aos fatos. Assim lentos, assim amargos, assim fortes até. Sobrevivendo à morte de todos os presságios.
Há um excesso de cores e de formas pelo mundo. E tudo vibra. Só às vezes julgo compreender. Então tenho vontade de abrir todas as janelas da casa para que o sol possa entrar.
Era só meu aquele esforço, eu soube, e essa talvez tenha sido a primeira vez em que te surpreendi existindo, paralelo entre mim e você. Oníricos, trocávamos sonhos os dois. Do teu dia quase não sei mais, mas sei do teu labirinto, e também não entendo. Caminhas em busca do teatro para entrar em cena e desempenhar o teu papel de sonho do sonho de outro. Mas – sei, sabes, sabemos – as uvas talvez custem demais a amadurecer. E quase não temos tempo.
Tudo como se fosse uma outra espécie de felicidade, esse desembaraçar-se de uma também felicidade. Emersa, chafurdava emoções: tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamentosas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausta, então, afogava-se num sono sem sonhos, por vezes – quando o ensaio geral das emoções artificialmente provocadas.
Alguma coisa explodiu, partida em cacos. A partir de então, tudo ficou ainda mais complicado. E mais real. Já havia ali, ou em mim, ou como for que seja, outra pessoa. Que mais me podes dar, que mais me tens a dar, a marca de uma nova dor, novo amor, enfim, seja. Muito mais que com amor ou qualquer outra forma tortuosa de paixão, será surpreso no que olharás agora, porque este outro nada sabes sobre o próprio poder sobre mim, e neste exato momento poderia escolher entre torná-lo ciente de que dependo dele para que me ilumine ou escureça-me assim, intensamente, ou quem sabe orgulhoso me negar o conhecimento desse estranho poder, para que não me estraçalhe impiedoso, numa paixão, que existe a poucos dias, e parece existir desde sempre, posta agora, como cartas na mesa para que comecemos a jogar.
Mas porque as coisas são mesmo assim, talvez por certa magia, predestinações, caminhos ou simplesmente acaso, quem saberá, ou ainda por natural que assim fosse, menos que natural, inevitável, fatalidades, trágicos encantos – belíssimos.