terça-feira, 4 de março de 2008

Perfídia

O metrô demorava a vir. Impaciente e colérica apertava seus dedos entre as mãos da forma mais vigorosa possível. Seus olhos castanhos intensos expressavam pura fúria, desejava um explosivo forte, um TNT que explodissem todos eles. Todos aqueles que a atraiçoaram pelas costas. Eles não tinham limites, eram egocêntricos e individualistas. Um dia havia acreditado neles, tinha-os amado, e aberto mão de diversas coisas por todos eles. Tomava partido, comprava brigas, e ofensas. Porém no final, todos se resolviam, e a deixava de lado em busca da sua própria felicidade, enquanto ela só desejava a presença deles. Traída, cobiçava a queda dos seus desleais aliados.
Fazia planos, arquitetava venenos, o ódio de uma pessoa traída poderia provocar a queda de outros tantos, e principalmente de si. Seu único desejo era a infelicidade deles, e com isso, acabava atraindo sua própria desgraça. Fumava, bebia e comia compulsivamente, aquela ira desgraçava seus dias. Apetecia no seu íntimo para que a justiça fosse feita, nem que fosse pelas próprias mãos. Ser traída por um parceiro ou um amigo poderia ser difícil, mas ser atraiçoado pelos seus progenitores parecia algo inesperado. As conseqüências eram graves, todos a sua volta lhe pareciam falsos, se seus pais foram capazes de lhe trazer seu próprio infortúnio, o que poderia vir do próximo? Havia passado dois anos tentando unir aqueles dois, cometeu claudicações por eles, engolindo sua própria estima. E quando tudo aboliu, lhe viraram a costas e só pensaram em si próprios. A raiva consumia, seria capaz de matar, se melhor fosse, não só a eles, mas todos os envolvidos na história. Já não temia mais nada, e isso era perigoso para qualquer ser humano: O não temor.
Mas aquilo feria a ela, desejava muito não ter aqueles sentimentos, pois não era uma má pessoa, apenas alguém que se sentia injustiçada. A ira poderia lhe causar males impossíveis de serem medidos num futuro próximo. Seus sentimentos se confundiam e entrelaçavam-se novamente. Como um expandir e contrair sistemático.
Por vezes, sentia pena, e tentava ver as coisas de um ângulo menos maléfico. Então passava um dia bem, fazia ligações e sentia algumas nostalgias de um tempo onde tudo dava certo. Porém esse dia passava, virava mais alguma noite entre seus escritos, e outras tarefas e todos os sentidos se contradiziam, e lhe vinha uma vontade quase irrefletida de arrebentar a cara de todos seus traidores. Feroz agia como vilã, pensava na grana que poderia vir com isso, e a justiça feita, era isso que eles mereciam. Por outras vezes acreditava que a vida poderia ser mais dura para eles, a morte seria talvez uma benção, e ela não desejava isso, para ela, se alguém merecia ser infeliz, e cruelmente torturados eram eles, até que não suportassem mais a vida.
Mas no fundo algo tomava conta de si, e abrandava seus sentimentos, como uma mão divina. Desejava paz e seguir tudo adiante esquecendo o que passou, junto com seus martírios, imêmore dos fatos. Talvez eles não tivessem feito por mal, só estavam imaturos ainda para enxergar. Fingia. Havia se tornado uma fingida de marca maior. E só assim conseguia levar seus dias e noites. Possuía características jamais imaginadas por ela, o ódio mudara seu comportamento, e seria capaz de qualquer coisa dali em diante.
Contradizendo todos os fatos, lia, praticava e sussurrava frases positivas, e tentava afogar suas mágoas ao mesmo tempo em auto destruição.
O ódio ganancioso parecia uma nova forma de existência. Mas pela primeira vez lhe tinha feito chorar. Sentimentos gelados geralmente não se escoavam em lágrimas, mas desta vez haviam se fundido em num choro desesperado. Talvez, porque não fosse somente ódio.

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