terça-feira, 4 de março de 2008

A Espera

O telefone toca. Ela se quer levanta-se daquela poltrona para atender, pois não era o chamado esperado, a tal resposta pela qual movia seus dias. Inquieta, andava de um lado para o outro, roia o resto de unhas que ainda restavam nos seus dedos longos, fumava mais um cigarro qualquer, já acendendo o próximo na brasa do mesmo. A resposta talvez nunca chegasse, ou quem sabe fosse meramente respondida de forma afável, porquanto, saber que alguém possuía sentimentos em cima de si, aquecia o ego, resultava por vezes deleito para alguns.
O fim de semana seria longo, quem sabe ele nem fosse ler aquelas declarações. Ou apenas achar mais uma asneira vinda dela, fulana estranha, que transbordava paradoxos nas suas frases medidamente digitadas, porém repensadas inúmeras vezes antes de serem enviadas para ele. Imponderável, gastava parte de seu tempo pensando num transcorrer utópico de uma fábula criada por eles. Mas ela queria arriscar, pois no seu imo, algo dizia que não era para desistir disso. Seria como abandonar uma história nos primeiros parágrafos. Histórias não eram concluíam assim, precisava-se de desfecho, por mais duros que fossem. Ela tentaria. Nos últimos tempos já não desistia fácil das coisas, mesmo que elas fugissem de si.
Planejou distrações, para seu corpo, alma e mente. Para que a resposta viesse serena, sem o pulsar repetitivo da aflição da espera. Deveria quem sabe encontrar alguns amigos, cair numa farra qualquer, fingindo estar tudo bem, e que no ponto médio do decorrer da noite, tudo realmente estivesse bem, nem que fossem por minutos ou poucas horas a seguir, por emoções forçadas. Por algumas vezes sentimentos artificialmente provocados só a levavam cada vez mais para a realidade, e todos os anseios que sentia por ele, e por sua espera.
Procurava num poço escuro a saída para tudo isso. Acreditara demais naquela fábula, e persistia nela. Foi aí o momento oportuno para despejar então palavras impregnadas de sensibilidade instigadas por ele. E só bastou um sinal para o estopim da explosão de sentimentos. Não sabia se aquele sinal era veraz, mas confiou na sua intuição para derramar parte dela, para que ele a conhece-se, e almejava que ele retribuísse.
Sua cabeça fervia em idéias e planos perfeitos para conquistar o inconquistável. Destruía sonhos alheios por passatempo, no final apenas para tentar suprir seus desejos íntimos, que por ele um dia foram afagados docemente, e sentia ausência. Substituía-o entre garrafas de vodka jogadas num terreno qualquer, junto com carteiras vazias de algum cigarro, entre amores e prazeres culpados. Não suportava mais essa rotina doentia, e se jogou num mar violento, para que as ondas pudessem quebrá-la ao meio, ou então jogá-la numa ilha fleuma, que dentre suas areias finas e brancas, a cobririam seu corpo como um manto, ou simples colo de mãe, que a diria que está tudo bem, que já poderia dormir em paz.
Havia passados poucos segundos, mas seus pensamentos frenéticos lhe davam a impressão de que horas teriam se passado com eles. O telefone continuava a tocar, ela levantou-se calmante, apagou o cigarro na metade, o deixando entre as cinzas, e procurava entre a desordem o aparelho telefônico, enquanto cantava como se não estivesse a mínima pressa, that's what you get. Enfim conseguiu encontrá-lo, seus dedos compridos de unhas ruídas apertaram o send com força e certo desespero.

- Alô?
- Gostaria de falar com a Vilma.
- Não mora ninguém com esse nome aqui.
- Ah! Desculpa foi engano.
- Sempre é.
- O que você falou moça?
- Falei que era engano.
- Ah! Sim, engano... Tudo bem, obrigado.
- De nada.

Desligou e voltou a se encontrar nos seus pensamentos. Enganos. Sempre são enganos. Mas daquela vez sabia que para ela não seria engano. O desfecho esperado poderia não chegar, mas seus sentimentos, por ele, nunca seriam enganosos.

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