quinta-feira, 20 de março de 2008

A falta

Por mais que as coisas fluíam com leveza, algo ali parecia irrequieto. Enroscava-se entre os lençóis, e indócil não encontrava nenhuma serenidade, entre pesadelos e pensamentos indigestos parecia não conseguir acordar. Estando completamente submersa naquele estado de quase transe. Sentimentos não revelados se confessavam ali, acordava ansiosa, a espera da recíproca não conquistada.
Naquele letargo, uma figura atípica lhe falava: Isto é apenas a forma sintetizada do Eu de todos, onde sempre existe o bem e o mau. Enquanto isso aqueles castelos, se tornavam ruínas, assim como si.
Acordava exausta, de tantas fugas e assombros vividos naquela noite. Alterava-se entre entender suas entrelinhas e então se atirava num entregar profundo de aceitações. Mas só, num estado meditativo não enxergava o que ainda havia ali, a Falta. Sentia-se completa, estava amadurecendo, e todo aquele presságio lhe trazia bons frutos. Porém submerso a aqueles sonhos, a falta continuava veemente. Então arremessava entre choros penosos, até que seus lábios estivessem completamente inchados e seu rosto transfigurado. Chorava pela falta. Comia compulsivamente onde pensava que então aquilo lhe confortaria. Na verdade só enchia seu estomago. A Falta estava puramente na sua alma. Culpada, e cúmplice de si, dirigia-se calmamente a uma privada qualquer, ali se ajoelhava como se fosse um altar, entre respirações profundas e culpas encravas, vigorosamente enfiava seu dedo indicador na sua garganta, sem dó. Vomitava compulsivamente, como se aquele ato a redimiria de suas culpas. Acabado o martírio então se achava digna de prazeres momentâneos, fumava um cigarro mentolado calmamente, e então voltava a si. Sem perceber que a auto destruição estava presente no seu cotidiano doentio, a procura de poder cicatrizar seu falsear.
Na mesma semana, um tanto de fulgor começava há clarear aqueles dias, a grande descoberta. Descobriria então a falta. Falta de si própria que consequentemente lhe causava suas árduas desilusões. Sua única veleidade era que tudo aquilo fosse recíproco, mas num passado, ela mesma havia desiludido suas esperanças e logo a do outro. Neles haviam se extinguido, pois ela mesma havia feito questão de fazer esse afazer. Porém nela, havia sido mais um equivoco, permaneceram presentes, em cada dia, hora ou segundo da sua existência, lhe causando males desmedidos, porque sabia que a única culpada era ela mesma, aquele reflexo mitigado ao espelho. Quase já irreconhecível a ela. Tentava recuperar suas perdas insistentemente, e não via nenhum resultado.
Nefasta, dormia por 15 horas seguidas, e desejava que tudo aquilo passasse rápido, e assim, se demorava mais ainda a ultimar. Deveria ter uma saída, uma solução. A buscava compulsivamente, pois sabia que em algum momento aquilo havia de ser suprido, talvez por um esquecer obvio do passado desmantelado, ou a visão de um novo futuro estimulante para que houvesse forças para ser seguido.
Nenhum futuro lhe parecia animador. Nada era o esperado. Pois no seu intimo, sabia que a falta só seria atenuada, quando aquele passado fosse enfim consolidado. E conhecia este caminhar, por visões ou devaneios, mas o conhecia, e sua percepção lhe dava avisos que estava próximo o capitulo posterior, anteriormente ansiado. Só assim poderia voltar a sonhar, dando espaço a novas histórias, ou reconstruir aquela passar antiga. Só precisava de um sim, e iria esperar, por ele.

2 comentários:

  1. Nati, Sou uma devoradora de livros, de textos de tudo que tem letras, palavras e frases...Os teus textos são de um sentimentalismo misturado com a mais pura realidade, as vezs assustador por apontar nossas veradades, revelar nossas almas, por nos identificar com eles...Como se estivesse falando sobre um pedacinho d ecada um de nós...
    A minha idéia esta na convicção de que v. deve ser uma grande colunista, não perca tempo vai logo marcar a história das coletâneas brasileiras.

    Beijo da Kátia (irmã da tia Bel)

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  2. que sentimentos misturados com realidade o que?! isso ai é repééé! dos fodas! hahahahaha

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